um projeto para um mapeamento


O projeto “De onde vem esse som? - Mapeamento Musical de São Vicente Férrer” buscou valorizar e dar visibilidade ao patrimônio cultural do Agreste Setentrional de Pernambuco, projetando a Música como uma forma de expressão viva, orgânica, presente na história da região, nas relações sociais, festivas, religiosas entre outras ocasiões possíveis de gerar conhecimentos os mais diversos. No período de setembro a outubro de 2022, uma equipe de 16 pesquisadores, formada por músicos e estudantes do Ensino Médio da cidade, participou de formações com foco na história e geografia do município, em reflexões em torno do patrimônio cultural do Estado e nos diferentes métodos de pesquisa, sobretudo, relacionados ao trabalho de campo, com entrevistas e preenchimento de fichas de observação.

Durante 40 dias de preparação, realizamos, coletivamente, um exercício o qual denominamos de levantamento preliminar da música em São Vicente Férrer. Foram registrados cerca de 106 nomes de grupos e pessoas relacionadas ao bem cultural, passo importante para direcionarmos as próximas etapas do trabalho.

A fase de identificação dos grupos e artistas teve início ainda em outubro de 2022, estendendo-se até dezembro. Os pesquisadores foram divididos em duplas ou trios, os quais atuaram nas seguintes áreas:

Centro, Distrito de Siriji, Distrito de Chã do Esquecido e Distrito do Alto do Cruzeiro, visitando casas, sítios, igrejas, terreiros, equipamentos culturais, escolas, entre outros lugares públicos e privados em busca de pessoas que pudessem atualizar as informações existentes e ampliar os dados da pesquisa.

Foram identificados 106 grupos e artistas, entre os quais, corais, escolas de música, Djs,
arranjadores, violinistas, sanfoneiros, saxofonistas, tecladistas, bateristas, cantores e bandas gospel, de forró, de brega, entre outros gêneros. Um universo sonoro diversificado, composto por artistas iniciantes e profissionais experientes, de diferentes gêneros, idades, classes sociais e credos religiosos.

Essa realidade nos possibilitou acessar outras histórias com personagens que falam de lugares antes negados, possibilitando que novas versões sobre o patrimônio musical de Pernambuco sejam gestadas e dotadas de interpretações múltiplas. Esta iniciativa, portanto, abrange reflexões sobre histórias contadas a partir de uma perspectiva pluralizada de ler e interpretar o mundo, com pensamentos que contrariam projetos políticos conservadores, os quais insistem em reproduzir estereótipos, desqualificar, inferiorizar e desmantelar as memórias daqueles e daquelas que habitam nas margens.

Nesse sentido, as experiências aqui reunidas seguem no contrafluxo de versões que defendem um único formato ou a existência de um gênero musical presente em São Vicente Férrer. Com esse projeto, sistematizamos informações que estavam dispersas e tornamos público um acervo documental gestado no cotidiano das escolas, dos subúrbios, das igrejas e terreiros, nas encruzilhadas das ruas, dos sítios, das comemorações públicas, privadas e nos mais diversos lugares que brotam conhecimentos.

Assim, este projeto se justifica como uma atitude de salvaguarda do patrimônio musical de SVF, evidenciando por meio de um mapeamento, produções que agregam valor aos processos criativos de segmentos sociais historicamente marginalizados e que encontram na arte, meios de resistir e assegurar a continuidade de suas práticas. Esses sujeitos “outros”, historicamente gestados pelas narrativas dominantes como corpos insurgentes, protagonizam conhecimentos que dão sentido de existência à vida de inúmeras pessoas, evidenciando novas possibilidades, outros mundos, outras realidades e existências.

Desse modo, as reflexões aqui reunidas subsidiam a produção de conhecimentos históricos
pautados na imaterialidade das práticas, no não-dito e nos mais diversos lugares onde se possa inventar o cotidiano a sua maneira, sem obedecer a padrões únicos e universais. Do tensionamento dessas relações, o projeto “De onde vem esse som? Mapeamento Musical de São Vicente Férrer” emerge com um acervo que prioriza a pluralidade cultural de Pernambuco e dar visibilidade a diversidade de saberes encruzados, necessários para percorrermos caminhos que transcedam pensamentos fixos e nos aproximem de saberes problematizadores, críticos e que cheiram a vida. Por isso, sempre em fluxo, em movimento e
transformação.

a coordenação